A menstruação é um processo natural e fisiológico na vida da Mulher, o qual determina o início e o fim do seu período reprodutivo. Todavia, ainda é um tema sobre o qual surgem dúvidas, nomeadamente no que diz respeito ao ciclo menstrual e rendimento desportivo.

Como consequência de um passado maioritariamente silencioso e de negligência sobre a menstruação, hoje em dia, o seu papel na saúde e posição social da Mulher tem sido alvo de mais atenção. Felizmente, gerou-se a necessidade de investigar sobre a menstruação e respetivo ciclo menstrual, assim como, criar iniciativas de apoio às necessidades das pessoas que menstruam.

CICLO MENSTRUAL E RENDIMENTO DESPORTIVO

O Ciclo Menstrual é composto por quatro fases: Folicular, Folicular tardia, Ovulação e Fase Lútea. Ao longo destas, ocorre uma «dança» entre quatro intervenientes hormonais: a FSH (Hormona Folículo Estimulante), a LH (Hormona Luteinizante), Estrogénios e a Progesterona. A sua sincronização é gerida pelo hipotálamo, através da produção de hormonas, as gonadotrofinas, as quais provocam a libertação de FSH e LH em coordenação com o ovário. Por consequência desta «dança hormonal» ao longo do ciclo menstrual, existe a necessidade de alteração do plano de treino, em função das suas diferentes fases. Os distúrbios ou irregularidade na menstruação afetam o bem-estar físico e emocional das pessoas que menstruam e, consequentemente, impactam no desenvolvimento de atividades sociais e físicas.

Está comprovado que a prática de exercício físico diário, para além da manutenção da forma física, ajuda na regulação da sensibilidade à insulina e promove a regulação do ciclo menstrual e sensação de bem-estar. Durante a menstruação, é recomendada a prática de exercícios mais leves, sendo as sessões leves de running uma boa opção, sempre e quando não exista dismenorreia (dor menstrual intensa).

A escolha do produto menstrual a utilizar é bastante pessoal, dependendo das preferências e sensibilidade do utilizador. O conselho que me permito dar à pessoa que menstrua quando se depara com a decisão de escolher qual o produto menstrual a utilizar, é o de que deve avaliar as vantagens e desvantagens de cada um, experimentar aqueles com que se identifica e, escolher aquele que a faz sentir mais confortável.

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A MENSTRUAÇÃO NA SOCIEDADE

As práticas utilizadas na gestão da menstruação adotam várias nomenclaturas. Os termos “práticas menstruais”, “métodos de higiene menstrual”, “comportamentos menstruais”, “métodos de recolha menstrual” ou “métodos de higiene” são habitualmente referidos, apesar de não existir consenso sobre a sua aplicação e significado.

Por exemplo, alguns autores definem o termo higiene menstrual como “banho ou higiene durante o período da menstruação depois de cada micção ou defecação”, enquanto outros o definem, como o uso de produtos menstruais. As realidades vividas durante a menstruação diferem em função do contexto socioeconómico da pessoa que menstrua.

Os métodos utilizados em meios sociais precários carecem de adequada higienização, favorecendo o risco de infeções do trato urinário (ITUs), doenças e infeções sexualmente transmissíveis (DST e IST) , as quais podem resultar em complicações ginecológicas. Pelo contrário, os métodos utilizados em países desenvolvidos, tais como tampões, pensos, copos menstruais, entre outros… auxiliam na prevenção destas infeções e promovem a saúde ginecológica.

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QUE PRODUTO MENSTRUAL DEVO UTILIZAR QUANDO PRATICO EXERCÍCIO, COMO POR EXEMPLO, O RUNNING?

Existem vários produtos que podem ser utilizados na recolha do fluxo menstrual, tais como, pensos, tampões, copos menstruais, cuecas menstruais… Quando comparamos os produtos menstruais entre si, devem ser avaliados vários fatores, tais como, o nível de conforto, e o risco de eventos adversos. Entendem-se como eventos adversos associados aos produtos menstruais: a irritação vulvovaginal, disúria, prurido, sensação de dorido, rubor, alergia, queimadura e sensação de humidade.

Adicionalmente, podem ocorrer infeções vulvovaginais (vaginose bacteriana, vulvovaginite…) e eventos, como, Síndrome de Choque Tóxico, quando os produtos não são utilizados corretamente. Atendendo à ampla diversidade de produtos menstruais e escassa evidência científica associada, faz sentido analisar as vantagens e desvantagens dos produtos mais testados: os produtos descartáveis e o copo menstrual (CM). O CM, é uma alternativa aos produtos menstruais absorventes mais comuns, e, ao invés das outras opções, recolhe o fluxo menstrual, não o absorve. Os materiais mais utilizados no seu fabrico são o Elastómero Termoplástico (TPE) e o Silicone de grau médico, cujos benefícios são:

• Económico: têm maior durabilidade, o que minimiza o investimento económico
• Ecológico: não gera resíduos mensalmente, ao invés dos produtos descartáveis.
• Prevenção de infeções vulvovaginais: o seu material de fabrico, respeita o pH e a microbiota vulvovaginal.

Existem, contudo, reportes de eventos adversos associados à utilização do CM, tais como: desconforto na inserção, dor abdominal, perdas de fluxo menstrual. Atendendo a que estes diminuíram nos primeiros três meses de utilização do CM, pode inferir-se que a sua ocorrência está associada à falta de habilidades no seu manuseamento. O manuseamento do CM no dia a dia, requer a posse de habilidades na sua inserção, retirada e higiene, quando as pessoas que menstruam o fazem em casas de banho públicas, o que pode ser desafiante para novos utilizadores. No que se refere aos produtos menstruais descartáveis, tais como os pensos e tampões, utilizados há muitos anos, as suas vantagens são: a fácil utilização, e não obrigarem a limpeza e desinfeção. Levantam, contudo, algumas questões, tais como:

• Económicas - obrigam a pessoa que menstrua a realizar uma despesa periódica para a sua aquisição; • Ecológicas - são gerados resíduos várias vezes por dia, mensalmente, durante o período menstrual;
• Alteração do pH e microbiota vulvovaginal, atendendo aos seus constituintes, o que potencia a probabilidade de ocorrência de infeções vulvovaginais ou reações cutâneas.
• Não é recomendado em pessoas com infeções vulvovaginais recorrentes,
• Associação a casos de Síndrome de Choque Tóxico, quando utilizados de forma muito prolongada, sobretudo em países não-desenvolvidos ou por pessoas de baixo nível socioeconómico.
• Propiciam a ocorrência de reações cutâ- neas pelo contacto com o suor.
• O design dos pensos e tampões potencia a probabilidade de perdas de fluxo menstrual com o movimento/prática desportiva. Na prática desportiva, podemos afirmar que, se o tamanho utilizado for o adequado e o mesmo estiver corretamente colocado, o CM apresenta maior janela de utiliza- ção, e o seu efeito de vácuo, ajuda a estiver perdas de fluxo menstrual com o movimento, o que se traduz numa vantagem para os desportistas.

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Texto por: Dra. Rita Paiva

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Academia Clínica Espregueira