Leia aqui, na íntegra, a entrevista à atleta do Clube Desportivo Feirense, que foi capa da Pro Runners #16.
Tinha apenas sete anos quando teve o primeiro contacto com a corrida e paixão tamanha não a fez desistir de querer ser atleta profissional. Em 2022, Solange Jesus foi a única portuguesa a garantir os mínimos para as maratonas dos Mundiais e Europeus de atletismo, conseguindo assim a primeira internacionalização pela Seleção Nacional enquanto sénior. Foram precisos mais de vinte anos para conseguir viver exclusivamente do atletismo.
Foi em Águeda, a “cidade dos guarda-chuvas” como é conhecida e na qual reside, que Solange Jesus recebeu a equipa da PRO RUNNERS para uma conversa “tranquila”, caraterística que usa também para se descrever, acrescentando ainda a resiliência, a humildade e a empatia, como principais traços da sua personalidade.
Tem 36 anos (7 de janeiro de 1987), é natural de Oliveira do Bairro e foi precisamente na sua cidade natal que começou a dar os primeiros passos, tanto na vida, como no atletismo.
“Lembro-me de fazer duas corridas na escola primária e, curiosamente, ganhei ambas. Na altura o meu padrinho perguntou-me se gostava de fazer mais alguns treinos e experimentar a modalidade, o que logo aceitei. Falou com o treinador da Associação Desportiva, Recreativa e Cultural da Serena (ADERCUS) e foi a partir daí que tudo começou”, recordou Solange, sorrindo ao viajar até à sua infância.
Foi assim, aos sete anos, que a paixão pelo atletismo despertou, incentivada, para além da família, também pela professora de educação física que “na altura já achava que tinha jeito”.
O gosto pelo atletismo “foi crescendo e até hoje nunca mais me largou. (risos) Gosto de sair para treinar, gosto do processo de treino e principalmente das amizades que conseguimos fazer neste meio."
Em 2006, sagrou-se Campeã Nacional de 3000 metros, registando o primeiro título da carreira, na disciplina em que se viria a especializar a partir do escalão de júnior.
Em estrada, corta-mato, pista coberta e pista ao ar livre, subiu também várias vezes ao pódio em Campeonatos Nacionais de Juniores, Sub-23 e Seniores, tendo representado a Seleção Nacional em Campeonatos da Europa de Corta-Mato, como Júnior e Sub-23.
Foi atleta do Sporting Clube de Portugal durante dez anos (2010-2020), onde conquistou diversos títulos coletivos. Representa o Clube Desportivo Feirense, há três épocas, pelo qual se sagrou, em 2022, campeã nacional de estrada (10 km).
“Está a ser muito bom. É um clube que nos apoia dentro de todas as suas possibilidades. No primeiro ano, tínhamos uma equipa muito humilde e fomos crescendo. Agora a situação é totalmente diferente, temos uma equipa super competitiva, com atletas de grande referência e acho que só temos de dar continuidade ao nosso trabalho para, no futuro, mantermos os bons resultados”, deseja a campeã, que tem como referências no atletismo Fernanda Ribeiro e Rui Silva.
Até 2022, Solange Jesus conciliava o atletismo com um emprego na área da logística, uma vez que não conseguia viver apenas do desporto.
“Apesar da corrida e dos treinos para mim já serem um estilo de vida, quando trabalhava numa empresa simultaneamente, aí sim, era mesmo difícil gerir a semana. Tinha de me levantar cedo para treinar, trabalhar durante oito horas e depois, muitas das vezes, voltar a repetir outra sessão de treino ao fim do dia, já cansada”, recordou.
Questionada se tem saudades do seu antigo trabalho, a atleta não hesita: “Estou a ser tão feliz neste momento - às vezes acordo de manhã e ainda tudo me parece mentira - que não sinto saudades da minha vida antiga."
Esta boa fase que a atleta atravessa deve-se em parte à parceria com a PUMA, consumada no início deste ano. A atleta assume que, para ela, a PUMA representa “tudo, porque me permite, neste momento, ser atleta profissional. É um orgulho muito grande poder representar uma marca deste nível e fazer parte de uma equipa que alberga enormes atletas.” Depois de quase três décadas ligada ao atletismo esta “é uma oportunidade à qual agradeço imenso à PUMA, porque nunca pensei que nesta fase da minha vida pudesse finalmente ser profissional”, diz com um brilho no olhar.
Mas o percurso até chegar aqui não foi, de todo, fácil, porque nem sempre o corpo está alinhado com a mente e que o diga Solange Jesus: “Houve uma fase da minha vida totalmente oposta a esta. Costumo dizer que não saía de casa para treinar, saía para correr. O treino não surtia efeito, não estava conectada comigo mesma e desencontrei-me totalmente. É lógico que depois a desmotivação é uma consequência porque sem resultados, sem me sentir bem, sem estar a correr feliz e a ser feliz naquilo que mais gosto de fazer, é difícil. Estive praticamente para abandonar o atletismo.” À semelhança do que acontece com diversos atletas de alta competição e que nos últimos tempos têm trazido a temática da saúde mental para a ordem do dia, também Solange Jesus não receia admitir que passou "por um início de uma depressão. Profissionalmente não me sentia realizada, a parte desportiva também não estava a coincidir... Se continuo no atletismo dou muito graças ao professor Amândio (fisiologista que me tem acompanhado ao longo dos anos) que não me deixou atirar a toalha ao chão”, confessou Solange, enaltecendo o facto de que “ter as pessoas certas ao nosso lado faz toda a diferença.”
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MARATONAS? VAMOS A ISSO!
Solange não só continuou a fazer corridas como elevou a fasquia. Em 2021, participou pela primeira vez numa maratona, a do Porto, onde foi a primeira atleta portuguesa a concluir a prova, ficando em 8.º lugar da geral com a marca de 2h33h19.
”Quando terminei foi uma sensação única, brutal... O atletismo já me deu imensas coisas, já me deu imensas sensações, momentos muito bons, mas realmente ter terminado a maratona é inexplicável. Fazê-lo nunca foi um dos objetivos da atleta e tudo começou por influência do companheiro e treinador, Ricardo Gomes.
“Foi quase por brincadeira, porque quem se estava a preparar para fazer a Maratona era ele. Como na altura não tinha nenhum objetivo competitivo, comecei a fazer os treinos com o Ricardo, também para ver se gostava do processo de treino e acabei por fazer quase metade de uma preparação. A maratona que o Ricardo ia fazer ficou adiada por um ano, devido à pandemia, mas eu comecei a ficar com o «bichinho» por causa do processo de treino e resolvemos começar a preparar-nos em agosto para a Maratona do Porto, que seria em novembro”, relatou a atleta.
A brincadeira «tornou-se séria» e no ano passado, Solange participou na segunda maratona, a de Paris, superando em 26 segundos (02:29.04 horas) a marca de qualificação para os Mundiais de Eugene e para os Europeus, em Munique, sendo a única atleta portuguesa a garantir os mínimos para estas as duas competições. “Lembro-me de chegar ao fim e de ainda não estar muito em mim. Não tinha ainda muita noção do que tinha acabado de fazer. Sei que me agarrei ao meu treinador, começámos a chorar os dois, mais pela superação, não tanto pelo tempo em si. Obviamente que depois fiquei muito feliz", relembrou Solange.
A corredora representou Portugal nos Europeus de Atletismo, em Munique, e embora não tenha conseguido terminar a prova devido ao desgaste físico, refere que foi muito especial representar a armada lusa a nível sénior pela primeira vez: “A prestação não foi, de todo, aquela que eu queria e para a qual trabalhámos, mas representar Portugal a nível sénior era já um objetivo, ou seja, como absoluta foi a minha estreia e foi muito bom! Já tinha representado o nosso país nas camadas jovens, mas o caminho até aqui foi muito difícil, então foi uma enorme satisfação.”
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A ROTINA QUE FAZ EVOLUIR
Agora que vive única e exclusivamente para o atletismo, a atleta esforça-se para manter a disciplina no que toca à sua rotina de treino, descanso e alimentação.
“Tento sempre levantar-me cedo, não tão cedo como antes quando tinha de ir trabalhar, mas tento ter um horário certo para acordar. Tomo o pequeno-almoço, saio para fazer a primeira sessão de treino do dia por volta das 9h30, almoço às 13h e tento descansar sempre um pouco a seguir. A segunda sessão é por volta das 18h, quando treino sozinha, ou seja, nos dias de treino regular. Nos dias específicos, treinamos em grupo por volta das 18h30. Os treinos normalmente são em Águeda, tantos os individuais como os de grupo”, referiu.
Quanto à alimentação, Solange não é extremista. Tem cuidado, mas também não se priva de nada, pois isso pode afetar o psicológico que consequentemente afeta o corpo, a sua ferramenta de trabalho: “Agora que tenho mais tempo acabo por ter mais atenção à minha alimentação porque esta é o combustível que necessitamos para recuperar. Tento ser regrada. Como de tudo, mas acho que não devemos cometer demasiados exageros. Não me privo, mas controlo, acho que isso é importante.
Para além do treino de corrida que faz habitualmente - onde por vezes faz treino de rampas ou treinos em terra batida, consoante a prova para que se esteja a preparar - a atleta aguedense também dá atenção ao trabalho de reforço muscular: “Normalmente à segunda-feira faço uma sessão de reforço muscular e à quarta-feira faço pilates. Acho que é muito importante porque para além do ganho de força, também é muito eficaz na prevenção de lesões. O pilates é essencialmente para trabalhar a postura e a flexibilidade porque neste tipo de exercícios conseguimos conciliar vários fatores. Noto que tenho melhorado bastante.”
Na atual rotina de treinos, Solange e Ricardo decidiram, recentemente, que usar um medidor contínuo de glicémia (MCG) seria uma boa estratégia para controlar os níveis de açúcar no sangue, algo não muito utilizado em Portugal, mas que segundo a atleta já começa a dar frutos.
“Talvez seja recente em Portugal, mas no estrangeiro já vemos muitos atletas a controlarem a glicémia recorrendo à utilização de sensores. Senti essa necessidade no sentido de perceber quando tenho de fazer os abastecimentos, as quantidades dos abastecimentos, se realmente necessito de os fazer de 5 em 5 km... Nas Maratonas que conclui, sempre tive dificuldades. Nunca cheguei a ter problemas gastrointestinais, mas senti sempre enfartamento e então achámos que esta seria uma forma de tentarmos chegar a um ponto de equilíbrio para que me sinta melhor e mais eficaz na competição. Estou a usar este MCG há cerca de um mês e meio, tenho feito o controlo essencialmente nos treinos de séries e nos treinos longos e já dá para ir notando algumas diferenças”, expôs.
O APOIO... QUE FAZ SEMPRE FALTA
Solange é treinada pelo seu companheiro, Ricardo Gomes, há quatro anos. Hoje em dia, confessa que a relação profissional e pessoal estão em perfeita harmonia, mas que nem sempre foi assim: “Não foi propriamente fácil, no início. A relação de proximidade muitas das vezes atrapalhou porque como o nível de confiança que nós temos é elevada, «chocávamos» um pouco. Mas ele soube colocar os «pontos nos i’s», e a partir daí conseguimos encontrar um ponto de equilíbrio. Gosto da forma como ele aborda o processo de treino e têm sido quatro anos muito bons. O Ricardo conhece-me como ninguém, sabe quando estou bem, quando não estou e isso é uma mais-valia também para a parte desportiva. Tem sido um apoio excecional, é o meu braço direito porque está lá em todos os momentos. Tem sido gratificante para os dois.”
Para além de Ricardo, “a minha família sempre me apoiou desde pequena. Os meus pais sempre me acompanharam. Agora nem tanto porque é mais difícil para eles, mas sempre que podem estão presentes nas competições. Ainda hoje os meus avós maternos, que ainda estão connosco, vibram muito e são sempre orgulhosos, ligam-me sempre no fim das competições. Os meus avós paternos, que infelizmente já partiram, também sempre que podiam estavam presentes e é claro que todo este apoio foi e continua a ser muito importante”, frisou.
UM PÉ CÁ E OUTRO... NOS JOGOS OLÍMPICOS
Apesar de defender com unhas e dentes as cores nacionais, Solange não não esconde que “ainda há muito para fazer no atletismo do nosso país”. Se é verdade que os atletas têm de trabalhar e apresentar resultados, também o é que “os apoios são muito escassos”, o que acaba por não incentivar os jovens a ingressarem numa modalidade como o atletismo.
Quanto ao papel da Federação Portuguesa de Atletismo, neste momento a atleta de 36 anos diz “não ter razões de queixa”, no entanto, considera que “devia haver mais apoio, principalmente para as camadas jovens, que são o futuro. Tem de haver trabalho das duas partes, dos atletas e das entidades, só assim vamos andar para a frente.”
Quanto a objetivos futuros, Solange adiantou estar a preparar-se para mais uma maratona, na primavera: “Claro que há sempre expetativas, mas não me sinto muito pressionada porque também sinto que tenho trabalhado bem e o que tiver de ser para mim será... Entre a preparação vou fazendo algumas provas de estrada para ganhar algum ritmo competitivo e depois logo se verá.”
A par das provas de calendário, há um grande objetivo a ser cumprido, que passa pelo “ sonho de qualquer atleta”: estar presente nos Jogos Olímpicos! Solange Jesus acredita que um dia vai conseguir chegar lá, porque “com trabalho tudo é possível”.
“Costumo dizer que temos lá um pé, só falta meter o outro, mas nada é garantido, portanto é continuar a trabalhar para conseguir chegar lá. Tenho o feeling que um dia vou conseguir. Acredito muito em mim e no trabalho que estou a realizar com a minha equipa”, concluiu.
E porque o trabalho e a sorte andam sempre de mãos dadas, só nos resta continuar a acompanhar esta atleta apaixonada, que tudo fará pelo sonho olímpico, correndo com a mesma ambição e resiliência que a levou até à ribalta e fez dela Campeã Nacional Sénior aos 36 anos.
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PUMA DEVIATE NITRO 2 E DEVIATE NITRO ELITE 2: INSEPARÁVEIS E IMPARÁVEIS!
Sendo o calçado um fator primordial para um atleta de corrida, Solange Jesus aponta a “estabilidade, a reatividade e o conforto” como os três pontos principais que uma sapatilha deve ter.
Nos pés não dispensa os Deviate Nitro, gama à qual está completamente rendida, apostando nos Deviate Nitro 2 para os dias de treino e nos Deviate Nitro Elite 2 para competir. Ambos os modelos com excelente qualidade e adequados aos seus objetivos: “nos dois, destaco a reatividade. Nas de treino tenho sentido um bom amortecimento, mas mesmo assim é uma sapatilha que nos torna rápidos. Gosto particularmente treinar com as Deviate Nitro 2 e tenho-me sentido bastante bem porque são muito leves, ou seja, conseguem juntar a leveza com o amortecimento e a reatividade. Com as Deviate Nitro Elite 2 sinto praticamente a mesma coisa: reatividade na competição. Não sinto que sejam demasiados baixinhas, considero que têm um bom drop (8 mm), também têm um bom amortecimento e devido à minha passada gosto de sentir esse conforto. Adaptei-me muito bem tanto ao modelo de treino como ao de competição, por isso estou muito satisfeita”, confessou a atleta cujo o sonho é “ser olímpica”, sonho esse que pode não estar tão distante como parece, at´´e porque os Jogos de Paris estão a poucos meses de distância.
As Deviate Nitro Elite 2 foram pensadas precisamente para quebrar recordes em distâncias como a maratona. Para tal, são 60 gr mais leves do que modelo Deviate anterior. A capacidade de resposta associada à propulsão e amortecimento parece ser a fórmula mágica deste modelo, que se apresenta com uma borracha mais fina, uma entressola de espuma NITRO Elite com injeção de nitrogénio ainda mais leve, uma placa de fibra de carbono termoformada mais fina e resistente e uma pala de malha respirável, que aconchega o pé. Novidades que chegam em cores vibrantes e apelativas - tons de verde, azul e violeta - que facilmente farão as delícias dos amantes de corrida, que não dispensam a performance associada ao estilo. Disponíveis em seis cores estão os Deviate Nitro 2, um modelo já bem conhecido do público nacional e que ainda recentemente pôde ver nos pés do Campeão Olímpico, do Mundo e Bicampeão Europeu Pedro Pichardo, igualmente com uma plataforma em fibra de carbono com a tecnologia PWRPLATE da PUMA e tração melhorada com a borracha PUMAGRIP.
FAST LANE
Não sai de casa sem: ir com a minha cadela à rua
Treinar sozinha ou acompanhada: acompanhada
Local preferido para treinar: Centro de Alto Rendimento de Águeda
Comida favorita: panquecas saudáveis com xarope de ácer
Um defeito: teimosia
Uma qualidade: determinação
Superstição: dar sempre um beijinho ao namorado antes das provas
Para si a corrida é: ser feliz
Maior sonho: ser olímpica
Recorde pessoal: 2h29h04 (Maratona)
Quantas sapatilhas tem: cerca de 40
Uma mania: prender o cabelo várias vezes
Hobbie: ler
Correr com frio ou calor: calor
Uma prova que sonha fazer: Maratona de Boston
Gostava de ser lembrada como: uma amiga
ADQUIRA JÁ O SEU EXEMPLAR AQUI
Fotos: César Santos