A PRO RUNNERS relembra a história de três testemunhas, para quem o peso era um problema de todos os dias e deixou de ser...

Para quem vive com excesso de peso, os quilos a mais estão presentes diariamente e são uma realidade que é preciso encarar para superar. Nuno Teixeira, Ângela Cavaco e Beatriz Ramos e Ramos são três exemplos de pessoas que não tiveram medo de dar o primeiro passo nesta maratona contra a balança.

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NUNO TEIXEIRA (Valpaços)

Tinha 36 anos e 148 kg quando tomou consciência de que estava na hora de mudar. "Um dos motivos foi perceber que a minha filha tinha vergonha de mim e que não gostava de ser vista comigo, mas pior foi perceber que a qualquer momento alguma doença relacionada com obesidade me poderia derrubar e então não poderia sequer vê-la crescer". Nuno começou por pedir ajuda médica, foi encaminhado para uma nutricionista, que o aconselhou a mudar hábitos alimentares e estilo de vida.

Comum a quase todas as pessoas que enfrentam a dura realidade do excesso de peso é a motivação para dar o primeiro passo. Mas quando se prime o gatilho da força de vontade e os resultados começam a aparecer, tudo parece ficar mais fácil. “Durante o processo de perda de peso, alterei a alimentação e iniciei a prática de desporto”, recorda Nuno. “Sendo a corrida um dos desportos mais completos para a perda de peso e aumento da resistência física, foi a partir daí que comecei a correr durante uma hora, numa base diária. No ginásio tinha a ajuda e acompanhamento de um personal trainer que também me iniciou na prática de cycling. À medida que a perda de peso se começou a tornar visível também a disposição para sair aumentou, e assim comecei a praticar BTT.”

Mas a vontade de desistir, acompanhava-o todos os dias. “Sim, várias vezes pensei desistir, porque as dores no corpo eram intensas e tinha dias de chegar cansado do trabalho e não me apetecia, mas as mudanças físicas visíveis aumentavam a motivação para continuar. E a vontade de continuar era maior que a vontade de desistir.” Passo a passo, pedala a pedalada, Nuno Teixeira perdeu 70 kgs em 3 anos e, entretanto, até se tornou federado em BTT.

Hoje em dia, aos 45 anos, leva uma vida muito diferente da que tinha em 2013. “O sedentarismo ficou para trás e a manutenção torna-se mais fácil, tanto física como psicologicamente. Continuo a ter cuidados com o que como, mas como um pouco de tudo, evitando apenas hidratos de carbono e adicionando mais proteína ao longo das refeições. O treino já não é tão intenso no entanto continuo a praticar BTT  várias vezes por semana, intercalando com dias de corrida”, relatou à PRO RUNNERS.

Para quem está a passar por este processo, Nuno deixa uma palavra: “Tenha força para começar e ainda mais força para não desistir!”

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BEATRIZ RAMOS E RAMOS (Lisboa)

À data deste artigo (abril de 2021) tinha apenas 17 anos mas uma história de peso para contar. "Perdi 23 kg em 11 meses resultado da mudança de hábitos alimentares e o início da prática regular de exercício físico. Pesava 77kg e hoje peso 54kg. Passei de um XL para o XS e do tamanho 44 para o 34”, relata.

Quem a vê a treinar dificilmente imagina as dificuldades pelas quais passou. Diz que nunca sofreu bullying, mas numa idade em que os pares, por vezes, podem ser cruéis, alguns comentários sobre o excesso de peso começaram a afetar a sua auto-estima e, quando no final do Verão de 2018 teve de experimentar a farda do colégio e percebeu que esta não ia apertar, interiorizou que tinha chegado a altura de mudar alguns hábitos. “O problema não estava propriamente nos alimentos que escolhia, mas, como acontece com muita gente, nas quantidades que decidia ingerir. Não praticava exercício físico pois experimentava vários desportos e desistia sempre passado pouco tempo. Sentia-me frustrada e cansada, tinha de baixar de peso. Ao longo do tempo fui tendo várias nutricionistas, mas havia sempre qualquer coisa que me levava a desistir daquele plano estipulado. Faltava-me entusiasmo e disciplina, até conhecer o PT Tiago Reis e Silva que dá treinos outdoor junto ao Rio Tejo. Tive o meu primeiro treino e gostei muito da sua dinâmica e da motivação para não desistir do objectivo.” Já lá vão 3 anos e os resultados são visíveis a nível físico, mas também psicológico. “Agora tenho uma autoestima bastante mais elevada, pois tenho o corpo que desejei durante muito tempo.”

Beatriz, diz que encontrou um novo estilo de vida, e tudo porque “mudei a minha forma de pensar. Sei que nunca me vou arrepender do dia em que comecei esta luta contra o excesso de peso
e a minha inactividade.” Atingido o objectivo de perder peso, Beatriz entrou num processo de manutenção e aí o seu mindset mudou (de novo!). “Desde o momento em que a meta passou a ser a performance, desenvolvi um gosto imenso pelo desporto, mas mais concretamente pela corrida. Eu que detestava correr hoje posso dizer, com muito orgulho, que a corrida para mim é das melhores coisas de sempre! A sensação de finalizar uma corrida é única e inexplicável.”

Em 2021, Beatriz inscreveu-se na sua primeira meia-maratona (21kms), que teve de ser virtual, devido à pandemia e, terminá-la, “foi quase um sonho tornado realidade pois há dois anos seria impensável correr 2km seguidos… ! A corrida ensinou-me muito sobre a humildade, é toda uma lição de aceitação, sobre querer dar o melhor que temos em nós para a nossa própria satisfação. Começar a correr deu um «abanão» brutal na minha autoestima, consigo valorizar o meu próprio esforço e reconheço agora a grandeza do que consigo realmente fazer.”

Sabendo que a alimentação é fundamental para a gestão de peso, Beatriz diz que “embora não coma tudo o que me apetece”, também não se priva de comer alguns alimentos de que gosta, tentando “manter sempre o equilíbrio”.

Beatriz criou a página de Instagram @fazporti_ com o objectivo de incentivar os jovens a praticarem uma alimentação saudável e exercício físico. “Tento ao máximo transmitir o meu gosto pela corrida, conseguindo colocar imensa gente a experimentar correr.” A jovem de 17 anos, criou também o movimento #correporti “onde as pessoas podem partilham os quilómetros que fizeram, pois 1km rápido ou devagar é sempre 1km!”

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ÂNGELA MARIA CAVACO (Covilhã)

A história de Ângela é uma história que ainda se estava a escrever à data deste artigo (abril de 2021), pois a sua maratona tinha começado há apenas quatro meses, quando pesava 127kg.

“O meu aspeto físico nunca foi, para mim, uma limitação, não tinha vergonha do meu corpo, sentia-me bem, então não me preocupava muito em perder peso. Mas os problemas de saúde começaram a surgir. Tinha perturbações hormonais, infecções consecutivas no fígado, a pressão arterial estava sempre muito alta, acordava sempre cansada, não conseguia dormir bem porque sentia dificuldades em respirar. O cansaço diário limitava-me até em actividades simples como andar ou subir escadas. Psicologicamente começou a ser difícil lidar com esta realidade, sentia culpa por não conseguir mudar, tinha consciência que, se eu quisesse, podia ser uma pessoa saudável. Decidi que só tinha um caminho a seguir, mudar, perder peso e recuperar a minha saúde.”

Apesar de motivada, o processo mostrou-se mais difícil do que esperava: “Aceitar que tinha que perder peso não foi a solução, pelo contrário, passou a ser o meu maior obstáculo. Só pensava no peso que tinha de perder, não eram só 2Kg ou 3 Kg, tinha que perder mais de metade do que pesava. Sabia que ia ser uma batalha morosa, então precisava encontrar uma forma de me sentir motivada durante todo o processo. Comecei por fazer algumas caminhadas e a explorar receitas mais saudáveis. Acabei por descobrir e me inspirar no que hoje são os meus pilares de sucesso: a dieta vegetariana e a corrida.”

Aos 36 anos, esta trabalhadora de Telemarketing, como grande parte da população portuguesa, encontrava-se em casa, em teletrabalho. Os lentos resultados, levaram-na a procurar ajuda exterior

“Quando comecei, não tinha conhecimentos de prática desportiva nem de nutrição. Procurei alguma informação na internet mas ficava sempre mais confusa. Um dia, li num artigo da PRO RUNNERS, sobre as vantagens de ter um acompanhamento profissional. Percebi logo que era mesmo isso que precisava para concretizar os meus objectivos. Comecei por me inscrever no Centro Municipal de Marcha e Corrida da Covilhã. Depois decidi que queria ter um acompanhamento ainda mais individualizado e juntei-me à equipa Dr. Runner Coach. Agora, estes dois projectos são a base para as minhas pequenas conquistas. Recebo o treino pronto a ser praticado e sei que está adaptado às minhas capacidades, evitando lesões e totalmente preparado para garantir a minha evolução.”

Ângela treina seis dias por semana e conta com um plano diversificado. “Tenho dois dias de treino de reforço muscular, um dia com exercícios de técnica de corrida e os restantes dias com treinos mistos de caminhada e corrida com diferentes intensidades. Os treinos são planeados com duração de 40 min a 70 min. Respeito também muito o meu dia de descanso activo e as minhas noites de sono reparador.”

À semelhança da jovem Beatriz, também para Ângela, correr se mostrou uma surpresa positiva e um gosto que não sabia ter. “Há uma sensação muito poderosa na corrida, a sensação de superação. Quando corri pela primeira vez quatro minutos seguidos, nesse momento, para mim, tudo passou a ser possível. Quando termino o meu treino, sinto que consigo fazer sempre mais do que conseguia antes de começar. Todos os treinos são um novo desafio, em todos os treinos fico a conhecer um pouco mais sobre mim. Há ainda uma sensação que aguardo com ansiedade. Sou da geração de pessoas que começaram a correr durante o confinamento e ainda não tiveram a possibilidade de participar numa corrida. Acho que não há forma de descrever essa experiência, por isso vou aguardar para poder senti-la.”

Em 4 meses, Ângela perdeu 20kg e sabe que ainda tem muito trabalho pela frente, “Não vale a pena tentar mudar só porque tem de ser, isso nunca vai resultar. Temos que descobrir valores afectivos como motivação. Sinto que estou a ser beneficiada porque tive a sorte de alcançar propósitos que fazem todo o sentido para mim. Quando estou a preparar uma refeição vegetariana, estou a fazê-lo porque acredito nos benefícios da dieta. Quando vou correr, vou fazê-lo porque quero conseguir correr cada vez mais e melhor. Sinto-me cada vez mais motivada, porque estou a recuperar a minha saúde e a descobrir uma nova forma de viver onde me sinto muito feliz e realizada.”

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O peso do sedentarismo em Portugal

De acordo com o “Inquérito Nacional de Saúde” do Instituto Nacional de Estatística, publicado em 2020, com dados relativos ao ano anterior, mais de metade da população com 18 e mais anos (4,6 milhões) continuava a ter excesso de peso (36,6%) ou obesidade (16,9%). Segundo os dados recolhidos, em  2019, a maioria da população com 15 ou mais anos (65,6%) não praticava qualquer actividade desportiva de forma regular, sendo que, apenas 13,6% referiram praticar exercício físico em um ou dois dias por semana.

Os principais “inimigos” a combater para reduzir a obesidade e excesso de peso são o sedentarismo e a alimentação inadequada (muitas vezes, mais do que comer muito, é o comer mal). Os sucessivos confinamentos não têm ajudado a tarefa de muitos portugueses. As restrições de circulação, a maior permanência em casa levaram a que um estudo da Direcção-Geral da Saúde, realizado com o objectivo de analisar os hábitos alimentares dos portugueses nesse período, concluísse que quase metade da população inquirida (45,1%) tenha alterado os seus hábitos alimentares durante este tempo, sendo que 41,8% admitem que mudaram para pior, com o aumento da  ingestão de comida processada.

Não poder sair, ou o encerramento dos ginásios, não deve ser impedimento da prática desportiva, com diversos exercícios a poderem ser realizados em casa, e muitos treinadores a apostarem nas aulas online.

Obesidade ou excesso de peso?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, considera-se excesso de peso quando o Índice de Massa Corporal (relação entre o peso e a altura de cada pessoa) é igual ou superior a 25. Já a obesidade é diagnosticada quando este valor é igual ou superior a 30.

Covid 19 + Obesidade = fatalidade

A obesidade constitui uma ameaça grave para a saúde. Sendo um factor de risco para o desenvolvimento e agravamento de outras doenças, quando se fala em Covid-19, as estatísticas revelam que também aí o excesso de peso tem uma grande incidência na taxa de mortalidade: os obesos correm mais 48% de risco de morrer, se forem infectados com o novo coronavírus; correm um risco aumentado (em 113%) de acabar numa cama de hospital; e a probabilidade de darem entrada nos cuidados intensivos é de mais de 74%. Estes resultados foram publicados na revista Obesity Review, com base em mais de 70 estudos realizados em diversos países, e levaram a que a temática estivesse na ordem do dia, a propósito da “celebração” do Dia Mundial da Obesidade e muitos questionassem se os obesos deviam (ou não) ser considerados prioritários no processo de vacinação. Entretanto, em Itália, um estudo revelou que 248 profissionais de saúde com obesidade produziram cerca de metade da quantidade de anticorpos em resposta a uma segunda dose dessa vacina, em comparação com pessoas saudáveis, ou seja, a obesidade pode ser também um dos motivos pelo quais as vacinas não sejam tão eficazes.

Questões a ter em conta e que devem ajudar a “pesar” a decisão de quem precisa de um boost motivacional na jornada da perda de peso.

 5 Dicas de Ouro a não esquecer, na hora de perder peso:

  1. Procure acompanhamento profissional de um nutricionista;
  2. Pratique exercício físico;
  3. Estabeleça um objectivo (real) e um prazo para o cumprir;
  4. Durma bem;
  5. Mantenha a motivação.

Pode encontrar este artigo na PRO RUNNERS número 4, disponível em versão digital AQUI.

Autores
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Ana Filipe