A corrida de obstáculos é uma modalidade recente em Portugal, mas que tem tido um crescimento acentuado nos últimos anos, com um aumento significativo de clubes, provas e atletas.

O português Gonçalo Prudêncio, de 31 anos, conquistou no último fim de semana, em Genk, na Bélgica, o quarto lugar na categoria de elite masculina do Campeonato do Mundo de OCR (corrida de obstáculos).

O português, que liderou grande parte da prova, reconheceu à Lusa o “grande orgulho” por ter saído de Genk com este resultado, admitindo que o estatuto de quarto melhor atleta de OCR do mundo é também uma “responsabilidade”.

“Este quarto lugar significa o concretizar de uma ambição depois de muito trabalho e esforço. É uma motivação para o que tenho pela frente”, afirma, em entrevista à Lusa, o atleta que em Portugal veste as cores da LynxRace Club.

Quanto à prova, Gonçalo admite que decorreu num nível “bastante alto” e que, apesar de plana, tinha duas subidas “bastantes fortes” e “uma parte final muito técnica”.

"Estive na frente mais de metade da prova, mas depois tive um percalço com uma mazela no pé direito, que vinha do dia anterior, e com o desenrolar da corrida fui apanhado por mais dois atletas, estive a disputar o terceiro lugar e acabei por cair para quarto. Ainda assim, foi uma boa corrida, bem disputada, num nível muito alto e estou de cabeça erguida e feliz, porque afinal de contas é um campeonato do mundo”, diz o atleta.

Com uma prova ainda por disputar, Gonçalo Prudêncio é já o virtual campeão nacional de OCR e olha já para novos desafios.

“O caminho é muito longo, mas ainda há muitas portas por abrir e quero continuar a elevar o nível dos atletas e deixar um caminho para os que estão a crescer agora, para as novas gerações. Faço o meu trabalho, dou o meu melhor, mesmo estando aqui no cantinho do mundo, mesmo com menos apoios”, realça o atleta.

Em Portugal, a modalidade é ainda amadora e Gonçalo Prudêncio pede que se faça mais para ajudar os atletas que se empenham.

“Temos de caminhar para o profissionalismo, mas estamos longe. Tudo isto sai do meu tempo, do meu corpo e do meu bolso. Se não houver ajudas torna-se insustentável”, adverte.

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Carlos César, presidente da Federação Portuguesa de Corrida de Obstáculos (FPOCR), reconhece que os atletas precisam de ser melhor apoiados e por isso exalta ainda mais os resultados conseguidos no Mundial.

“Tivemos na nossa comitiva mais de 50 atletas e pela primeira vez conseguimos levar treinadores, equipa médica e árbitros. Acredito que, como modalidade, saímos fortalecidos deste Mundial e o resultado do Gonçalo é, de facto, um orgulho para Portugal. Foi um quarto lugar que até perto do fim podia ter sido um primeiro, segundo ou terceiro. Temos de reconhecer que foi fenomenal e que é uma posição que está muito acima do nível atual da modalidade no nosso país atualmente”, afirma o dirigente.

O presidente da FPOCR não tem dúvidas de que mais resultados destes podem repetir-se.

“O Gonçalo pode ser um exemplo para os mais novos: dá tudo, trabalha mesmo com poucos apoios, mas quer ser sempre o melhor e está a demonstrar que é um atleta de elite e um candidato a ganhar em qualquer lado do mundo”, assegura Carlos César.

Além do quarto lugar de Gonçalo Prudêncio, a comitiva lusa deixou Genk com mais duas medalhas: Eugénia Martins sagrou-se campeã mundial feminina no escalão 50-54 anos, ao conquistar o ouro na distância de três e 14 quilómetros, enquanto Duarte Alves conquistou a prata nos 25-29 anos na prova de 14 quilómetros.

A corrida de obstáculos é uma modalidade recente em Portugal, mas que tem tido um crescimento acentuado nos últimos anos, com um aumento significativo de clubes, provas e atletas.

Resultado desse crescimento, Portugal vai organizar o Campeonato da Europa em 2025, um evento que Carlos César acredita que pode marcar uma nova era da modalidade.

“Já estamos a trabalhar rumo a 2025 e a primeira aposta é na formação ao criarmos condições e competição para os mais novos. Queremos ter mais e melhores atletas em 2025, aproveitar o facto de estarmos a jogar em casa para lutar por pódios e medalhas”, conclui o líder da FPOCR.

Fonte: Lusa