Praticar exercício físico é essencial para termos mais e melhor saúde cardiovascular.
Tendo em consideração os múltiplos benefícios da prática regular de exercício e o elevado número de pessoas fisicamente inativas e sedentárias em Portugal, é importante desenvolver estratégias para mudar este panorama e incentivar a prática da corrida é uma delas! Como os dados do recentemente publicado estudo RADICAL indicam, no qual cerca de 58% das mais de 5.000 pessoas que participaram são inativas fisicamente, ainda há um longo caminho a percorrer.
Em Portugal, pelas excelentes condições climatéricas e geográficas, bem como pela oferta crescente de atividades desportivas e provas organizadas, só não corre quem não quiser. Obviamente que qualquer tipo de exercício físico é bom e há felizmente muitas outras opções. O mais relevante é “fazer qualquer coisa”.
No entanto, a corrida pode ser, de facto, um estímulo fácil para nos tornarmos mais ativos. Na maioria dos casos basta experimentar. Adicionalmente, quando praticada em conjunto com outras pessoas, a corrida ajuda a criar laços sociais, aumentando a motivação e o estímulo.
Em termos clínicos o exercício físico, tanto aeróbio como de força, previne múltiplos fatores de risco e doenças. Destacam-se os fatores de risco e as doenças cardiovasculares, pela sua elevada prevalência e impacto global, mas outras como respiratórias, músculo-esqueléticas, neurológicas, psiquiátricas, metabólicas e até o cancro, que podem ser mitigadas com a adoção de um estilo de vida saudável, no qual o exercício físico constitui um pilar central.
Contudo, apesar destes benefícios, há alguns aspetos que devem ser tidos em consideração pelos praticantes de corrida. Em primeiro lugar, é fundamental alertar para a necessidade da realização de uma avaliação médica regular. Este aspeto é particularmente importante nas pessoas previamente sedentárias, com queixas, fatores de risco ou doenças cardiovasculares conhecidas. Mesmo na ausência destas manifestações, naquelas que ambicionam uma prática de nível competitivo, maior intensidade e volume de exercício, sobretudo com ambição de competirem em provas de longas distâncias, esta avaliação deverá ser mais detalhada. Entre os sintomas que podem ser provocados por doenças cardiovasculares, salientam-se a dor torácica, palpitações, taquicardia, cansaço desproporcional e perda de consciência, sobretudo quando precipitados pelo esforço físico. Outro aspeto essencial a valorizar é a história familiar de doença cardiovascular.
Uma dúvida recorrente e que surge sempre que ocorre uma paragem cardiorrespiratória durante um evento desportivo, é se o exercício poderá ser prejudicial ou se há um limite a partir do qual é demais. Há, de facto, alguns dados que demonstram que, nos praticantes de exercício extremo, há maior risco no desenvolvimento de algumas alterações patológicas e menor benefício que os praticantes em doses mais moderadas. É importante salientar que mesmo as pessoas com corações perfeitamente normais e exames prévios sem alterações significativas podem ter problemas clínicos graves durante a prática desportiva precipitados por fatores externos, nomeadamente quando realizada com temperaturas elevadas.
Por tudo isto, é essencial que os atletas que ambicionam participar em provas mais longas, como maratonas ou ultradistâncias, realizem uma preparação adequada e sejam acompanhados por profissionais com experiência, incluindo fisiologistas do exercício e nutricionistas. Mais que o dia da prova, é a sua preparação que fará toda a diferença.
No meu livro “Exercício Físico e Coração - Saiba como e até onde pode ir!” detalho estes e muitos outros tópicos que o ajudarão a correr mais e em segurança.