Pedro Pablo Pichardo reagiu, no sua página de Instagram, às declarações de Nélson Évora no podcast "40 minutos", da Rádio Observador.

Já era conhecido que a relação dos dois campeões de triplo salto por Portugal não era a melhor desde a primeira polémica que se instalou quando Pedro Pablo Pichardo ingressou no Benfica e Nélson Évora saiu. Mas se parecia que as águas estavam calmas, este domingo voltaram a mexer depois de Nélson Évora dar uma entrevista no podcast "40 minutos", da Rádio Observador, onde referiu mais uma vez a injustiça que foi a naturalização "tão rápida" do seu colega de seleção.

"(...) Não acho justo, e vou continuar a não achar justo. Existem muitos atletas que ainda estão à espera da nacionalidade... Aqui a questão é a igualdade de oportunidade, não faz sentido termos uma atleta como a Agate Sousa que é de São Tomé, não tem nacionalidade e tem de andar a pedinchar. Elas só querem uma oportunidade, então que seja dada da mesma forma. Eu tive de esperar 11 anos, não achei justo. Eu entendo que seja três meses, mas então que seja três meses para toda a gente (...)", começou por dizer ao Observador.

"(...) Não temos um atleta júnior que salte 16 metros, que possamos dizer que saltará 17 metros em sénior ou que possa ganhar uma medalha. Fico contente por ele trazer uma medalha, mas isto espelha o quê? Interesse de quem? Quem é que lucrou com isso? Foi Portugal! Claro, é bom, no curto prazo. Foi comprado um atleta para ter resultados a curto prazo. É como é! Temos atletas que chegaram antes do Pichardo e ainda não têm nacionalidade. Eu dei aqui uma referência exata, não pode acontecer isto. Eu sei que amanhã vão estar nas minhas redes a massacrar-me, mas não pode ser. Não tenho nada contra ele e nunca tive. Estive 11 anos em Portugal, estudei em Portugal, optei por não competir por Cabo Verde, não competi pela Costa do Marfim, e até me sinto envergonhado quando dou de caras com as federações das minhas origens. Até baixo a cabeça. São as minhas raízes mas não quis porque vim para cá com seis anos. Não sei nada sobre Cabo Verde e a Costa do Marfim. Tinha duas pessoas em casa que me deram educação conforme os costumes cabo-verdianos. À parte disso, todos os meus amigos são portugueses. Quando me foi dado a escolher em juvenil, eu recusei. Disse que não me ia sentir bem a vestir a camisola de um país no qual não me sentia", disse Nélson Évora.
 
"Ele nunca me cumprimentou. Já disse isso várias vezes. Fui muito educado com ele e com o pai dele. Não sei se foi para assumir as dores de outras questões clubísticas... Deixou de me cumprimentar. Não tenho de correr atrás de ninguém. Se sou educado para quem não conheço, por que é que não hei de ser educado para um colega meu no trabalho? É bom saber como somos uma referência, mesmo que ele tenha resultados melhores do que eu. Já atingiu os maiores títulos que eu já conquistei, mas é bom saber que todos virão", concluiu.

Pedro Pablo Pichardo, que nos contou a sua história de vida na Pro Runners 14 (que pode adquirir AQUI) reagiu às declarações de Nélson Évora e não foi meigo nas palavras. Numa publicação no Instagram, o campeão olímpico e mundial por Portugal vincou que Évora lhe "faltou ao respeito".

"Quando dizes que fui comprado, estás a faltar-me ao respeito. Não sou uma prostituta nem sou como tu, que saíste mal do clube porque te ofereceram mais. Não sei quais os problemas que tens na cabeça ou se tens problemas com alguém no Benfica, mas não deves misturar-me nessas coisas e falar de mim. Mas deixa-me explicar-te algumas coisas e também aos que te apoiam. Saí de Cuba pelos problemas que já toda a gente sabe. Estava na Suécia e o Benfica fez-me uma proposta, como fizeram outros clubes de outros países. Cheguei a Portugal sem saber nada dos teus problemas. Simplesmente estava focado na minha carreira", escreveu o recém-sagrado campeão da Europa no Instagram, explicando a razão pela qual não cumprimentou Évora depois da prova de qualificação nos Jogos Olímpicos, marcada pelo apuramento de Pichardo e lesão do atleta do Barcelona.

"Até porque já eras o campeão mas nunca me tinhas ganho, na tua carreira. Só ganhaste duas vezes e a tua melhor marca é 17,74 metros. Eu salto mais do que isso de leggings compridas e chapéu. Nunca foste a minha referência nem como atleta, nem como pessoa. Ficas a falar de Tóquio. Ok. Quando saíste lesionado, eu já não estava na pista porque fiz a qualificação logo no primeiro ensaio. Então, como queres que eu fale contigo? Passar 11 anos para teres um documento português não te faz mais português do que ninguém ou do que eu, que tive em pouco tempo. Afinal, adquirimos os dois nacionalidade portuguesa, o que quer dizer que não nascemos cá. Dizes não ter nada contra mim, mas o teu colega agora espanhol também teve documentos rápidos e foste um dos primeiros a dar-lhe os parabéns. Sempre que tens uma oportunidade, falas do Pichardo. Sê homem e fala diretamente para a pessoa e ou para o clube com o qual tens problemas. Para de falar de mim, que já pareces uma menina quando gosta de um rapaz (És bonito mas não sou gay). Sempre fiquei no meu cantinho, mas chega de humildade e de ficar calado. Podes ter a tua história e és o Nélson Évora, como disseste, mas eu também tenho a minha e sou o Pichardo. Quando fores vencedor da Diamond League, saltares 18 metros e tiveres os meus títulos num ano, então falamos de campeões. Sou melhor do que tu, aceita. Tu sabes", concluiu.

Presidente da Federação também já reagiu à polémica

O presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) Jorge Vieira não escondeu a indignação relativamente às palavras de Nelson Évora, que acusou o organismo de comprar Pedro Pablo Pichardo "para ter resultados a curto prazo" no triplo salto. Jorge Vieira explicou à rádio 'Observador' que se sente "chocado" com as palavras do campeão olímpico em Pequim'2008.

"A federação não teve sequer uma troca de palavras com o Pedro Pichardo antes de ele estar naturalizado. Não houve qualquer convite da nossa parte, nenhum aliciamento. 'Compra' é um termo que me choca. É impossível consentir uma acusação deste género, porque naturalmente não comprámos nenhum atleta, nunca uma naturalização partiu da federação, nunca convidámos nenhum atleta a ser português", explicou Jorge Vieira.

Depois contou por que a naturalização de Pichardo foi mais rápida do que a de Nelson Évora, que demorou 11 anos. "Isso é feito de acordo com a lei portuguesa. Há um regulamento que qualquer pessoa pode consultar, são leis públicas. A lei da nacionalidade, no artigo 24.º, aponta casos especiais, como a situação de atletas, ou noutras áreas, onde os cidadãos candidatos à nacionalidade possam prestar serviços relevantes ao estado português, mediante vários requisitos. E em nenhum deles está o esperar 11 anos. Isto é apreciado pelo Governo, pelo Ministério da Justiça, sendo também sustentado por pareceres. Houve um parecer da federação a sustentar que o atleta, ao ser naturalizado, podia prestar serviços ao país."

A naturalização de Nelson Évora foi diferente: "Ele veio para Portugal com 9 anos, não colhia nenhum argumento dentro desta lei, que nem sei se na altura existia. Durante todo este período jovem do Nelson Évora não houve qualquer argumento para acelerar a naturalização. Teve de se esperar pela maioridade."

Autores
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Márcia Dores