Diogo Mateus completou 7.6 km a nadar, 360 km a pedalar e 84.4 km a correr durante 34 horas, 7 minutos e 46 segundos.

Diogo Mateus, também conhecido por irondad nas redes sociais, é um triatleta de longa distância que se desafia dia após dia. Depois de ter criado o "Projeto Vencer", que tinha como objetivo incentivar todas as pessoas a tornarem-se mais ativas, Diogo Mateus propôs-se a outro desafio: completar o primeiro Duplo Ultra Triatlo contínuo realizado em Portugal.

Como surgiu a ideia?

Em setembro 2022 enviei uma mensagem ao meu amigo, e atual treinador, Miguel Carneiro a dizer queria fazer um “Ironman” (o Ironman consiste em nadar 3.8 km, seguidos de 180 km de bicicleta e mais 42.2 km de corrida) para mostrar ao meu filho, o Bernardo, a importância de lutar pelos objetivos e nunca desistir, por mais difíceis que eles possam ser. A 10 de junho de 2023 (9 meses depois), eu completava a distância do Ironamn pela Multisport, em Coimbra.

Durante a fase de preparação e mesmo após o desafio completado, várias pessoas vieram ter comigo a agradecer a inspiração que lhes transmiti. Diziam que graças ao que eu tinha feito, elas também tinham começado a treinar, ou tinham-se tornado mais ativas. Pensei: “se a fazer esta prova eu consegui impactar tantas pessoas, até onde chegarei se fizer o dobro desta distância?”. E assim foi, disse ao meu treinador que queria fazer o dobro da distância (7.6 km a nadar, seguidos de 360 km de bicicleta e mais 84.4 km a correr) e começámos os treinos pouco tempo depois da prova em Coimbra.

Quanto tempo de preparação?

Contando com a preparação para a distância do Ironman, foram 21 meses. Altura em que me iniciei no Triatlo.

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Qual o objectivo em fazer esta prova?

Esta prova nunca tinha sido feita em Portugal. Queria mostrar que qualquer pessoa pode alcançar qualquer objetivo independentemente das condições serem ou não favoráveis. Eu não sou a pessoa mais treinada, nem com mais experiência no triatlo. Não tenho as melhores capacidades físicas (e até tenho algumas limitações). Ainda estou a aprender a nadar e a correr. Preparei-me para este desafio sabendo que chegaria ao final sem receber uma medalha. Sem ser reconhecido oficialmente. Mas este desafio é muito mais do que reconhecimento.

Qual o motivo na escolha dos locais para a realização da prova?

Estando a viver em Lavre, queria fazer algo que fosse perto para motivar as pessoas a juntarem-se à Missão. As Piscinas Municipais de Vendas Novas, assim como a ciclovia, reuniam as condições ideais para a realização da natação e da corrida. A piscina com 50 metros é perfeita para fazer longas distâncias e a ciclovia permitiu correr em voltas pequenas, de 2 km cada, sem grandes desníveis, o que me facilitou o contacto com a minha equipa. Tenho de deixar um agradecimento especial ao Nuno Branco e a toda a equipa do Serviço de Desporto que foi absolutamente incrível no apoio durante todo o desafio garantido que nada faltava a mim, ou à minha equipa. Já a bicicleta, optei por fazer entre Lavre e o Monte Selvagem pelo facto da estrada ter sido arranjada recentemente e por ter pouco movimento. Além disso, contei também com uma grande ajuda por parte do Monte Selvagem que serviram de apoio a toda a equipa durante o tempo em que estive a realizar o percurso da bicicleta.

Como começou o dia e quais os maiores receios?

Comecei o dia a preparar as primeiras garrafas de hidratação, as próximas já seria a minha equipa a fazê-lo. Segui para a piscina com a minha «sogrinha» (como eu a trato) e encontrei-me lá com o treinador. Recebi as últimas dicas antes de entrar na água, fiz a minha meditação com algumas respirações profundas, pensei em todos os motivos pelo qual estava ali e entrei na água. O meu maior receio era se ia aguentar a temperatura da água. Após a primeira pausa, para ida à casa de banho, quando tinha feito metade da distância (3.8 km), senti bastante frio, com o corpo todo a tremer. Mas entrei na água novamente com a confiança de que o corpo iria voltar a estabilizar e assim foi. Aos poucos voltei a aquecer. Ainda tive algumas dores de cabeça, mas a equipa rapidamente resolveu com um comprimido.

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Como correu a transição para a bicicleta? Teve pessoas que o seguiram durante partes do trajeto?

Quando passei para a bicicleta sentia-me bastante bem. Comecei a sentir as pernas mais pesadas quando ultrapassei os 200 km. Rapidamente o meu Massoterapeuta, o Bruno Barroso, fez uma massagem e aliviou bastante a tensão que começava a fazer-se sentir. Por essa mesma altura recebi a visita de 2 ciclistas vindos de Vendas Novas que vieram dar uma força extra! Foi sensacional ver que mais pessoas estavam conectadas com a missão! Logo após juntou-se também o Isaac (de referir que em todo o desafio os regulamentos oficiais foram cumpridos - não foi utilizado em algum momento o “andar à roda”). Os últimos 40 km foram os mais difíceis devido à chuva, à dor na cervical (também muito aliviada pelo Bruno Barroso) e à inclinação de regresso de Lavre para Vendas Novas. Mas no geral, foi bem melhor do que aquilo que eu esperava. A temperatura esteve excelente, ainda que com alguma chuva à mistura, e a equipa foi incansável nos dois postos de abastecimento que foram montados. Um deles junto à entrada do Monte Selvagem.

Como correu a transição para a corrida? Teve momentos mais desafiantes?

Assim que comecei a corrida comecei a sentir as famosas “dores de burro” que me acompanharam durante vários quilómetros. Isso obrigou-me a alternar entre corrida e passos rápidos. Sempre que parava, para ir à casa de banho, ou comer algo mais consistente, aproveitava para aliviar as pernas com massagens do Bruno Barroso. Apesar da corrida ter sido bastante desafiante, pelas dores que já sentia e pelo cansaço acumulado, nunca pensei em desistir. Eu sabia que ia terminar o desafio, só não sabia quando. Toda a equipa, assim como família, que me acompanhavam, sempre me protegeram e reforçavam que estavam comigo até ao fim e para não me preocupar com as horas a que iria terminar.

Como foi feita a logística da alimentação e suplementação?

A alimentação e a suplementação foi toda preparada com o maior cuidado pela Health Coach, a Ana Tavela, e também pelo Personal Trainer Bruno Ferreira. Em cada posto de abastecimento estavam folhas com aquilo que eu precisava de comer e beber conforme o tempo ia passando. Toda a equipa estava alinhada e a trocar mensagens entre os postos de abastecimento para garantir a melhor coordenação. O mais difícil foi comer e beber (hidratação) mesmo quando não tinha fome ou sede. Mas fui sempre fazendo um esforço para respeitar o melhor possível aquilo que me iam dizendo para fazer.

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O que sentiu quando terminou?

Terminar este desafio é quase indescritível. É a prova final de que o corpo alcança o que a mente deseja. Eu sempre acreditei que iria chegar ao final, mesmo sem ter o tempo ideal de preparação para uma prova destas. Não conheço ninguém que tenha feito esta prova com apenas 21 meses de triatlo. Além disso, tive médicos especialistas a dizer que os meus joelhos não me permitiam fazer tais distâncias. Tive várias pessoas que me assustaram dizendo coisas como: “olha que podes ter um AVC” (nota importante: eu realizei inúmeros testes de aptidão física e análises que foram avaliadas por pessoas competentes antes de avançar para os treinos específicos deste desafio). Tenho pessoas que mesmo agora tendo realizado a distância ainda dizem que não é possível. Terminar o Duplo Contínuo é deixar um legado, nos meus filhos e em Portugal. Somos aquilo que quisermos ser. Nunca seremos pequenos enquanto pensarmos como gigantes!

Quantas horas demorou a prova?

O desafio teve uma duração total de 34 horas, 7 minutos e 46 segundos.

Qual o próximo desafio?

O próximo desafio começa já no dia 1 de Agosto e consiste em correr 10 km todos os dias durante 366 dias. Será um Recorde Mundial.