Foi na Maratona de Sevilha, que Paulo Franco bateu o recorde do guinness que lhe havia escapado "em menos de nada". Agora conta-nos como tudo aconteceu.

Tudo começou em 2016 com o nascimento dos gémeos, o David e o Daniel. Não obstante do novo desafio, o bichinho da corrida manteve-se incontornável e decidimos comprar um carrinho de jogging duplo para fazer face à nova logística que tínhamos entre mãos: manter a nossa atividade física e “terapia mental” diária, sem descurar a atenção à criançada. Daí até nos lançarmos a fazer algumas provas com eles foi um instante. Foi uma excelente forma que encontrámos de os envolver no desporto e obter motivação para continuar a treinar. Assim, em 2017 bati o Record Mundial do Guinness a empurrar um carrinho duplo, com o David e o Daniel, que à data tinham apenas 1 ano e meio, na Maratona do Porto, com o tempo de 3:09:06.

Não há dois sem três

Em 2018 nasce o Samuel, e obviamente, o mais novo não é menos que os mais velhos e também merecedor de almejar um Record do Guinness. Durante os cinco anos seguintes procurei incessantemente por um carrinho de jogging para três crianças, mas confesso que não foi uma tarefa nada fácil. Até que em 2023, num dia de inspiração e perseverança acrescida fiz uma incursão kamikaze por mais de 30 (!) grupos do facebook e ao fim de umas semanas consegui encontra o carrinho certo, que veio dos Estados Unidos. Bom, o mais difícil estava conseguido, o carrinho! Mas o desafio agora era mais difícil: mais um filho e mais pesados. Agora, os três mais o carrinho pesava tudo cerca de 100 kg! Meti-me novamente à estrada, de carrinho, mais precisamente nos passadiços entre a Expo (Lisboa) e Sta Iria da Azoia. Treinava com 3 sacos de areia no carrinho. Alguns que ali corria, ao passar vindos de trás, começavam a lançar apoio: “Muito bem, grande Pai, a empurrar três….”, mas depois quando passam ao lado e olhavam para o carrinho e viam os sacos de areia, pelas expressões que faziam aposto que alvitravam para eles: “este gajo não bate bem da bola!”.

No dia 3 de novembro 2024 alinhámos na Maratona do Porto para bater o Recorde Mundial do Guinness a empurrar um carrinho triplo, que se cifrava em 3:27:49. Foi uma verdadeira aventura toda a logística com os três, com a minha mulher, a Stepanka, e mãe da rapaziada a ter um papel fundamental e exemplar em todo o processo, sem ela seria impossível. Levei comigo o João Pinto, o Carlos Gomes e o Nelson Moura com um trabalho fulcral a ajudar nos abastecimentos e a manter o ritmo certo. Conseguimos tirar cerca de sete minutos ao anterior recorde e fizemos 3:20:38! Foi completamente inesperado confesso, foi uma jornada TOP!

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Impossible is (almost) nothing

Porque fez parte de toda esta jornada as dúvidas e incertezas, quando fiz a inscrição para a Maratona do Porto 2024 (novembro), fiz também inscrição para a Maratona de Sevilha 2025 (fevereiro). Se fracassasse-mos obter o recorde no Porto, teríamos mais uma par de meses para preparar nova tentativa para Sevilha. Bom, o recorde estava batido no Porto, mas o desafio foi lançado: bater em Sevilha o tempo realizado em 2017 (3:09) mas agora com três filhos e mais uns 70 kg de peso… Desafio aceite! Dois meses e meio de treino intenso e estava feito a preparação possível.

Há acasos do arco-da-velha

Com uma logística ainda mais complexa, mais horas de viagem, outro país, sem grandes contactos na organização, desafio ainda bem mais difícil (menos tempo e mais peso do que antes), chegou o dia D da Maratona de Sevilha, a 23 fevereiro 2025. Acordo de manhã com aquele nervoso miudinho, tão apertadinho que nem a tripa funciona e dou comigo a vacilar: “Fogo, mas o que é que vim praqui fazer?”. Abro novamente o site do Guinness para relembrar que se me faltar o gasóleo, bom, fico na mesma recordista, com o tempo do Porto e pronto. E aí levei uma brutal paulada… mais precisamente neste caso por um rolo da massa de um PIZZEIR, italiano. Um pizzeiro bateu o meu recorde... Por um minuto!!

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(Note-se que não tenho nada contra pizzeiros, nem contra italianos, é só forma de dar drama à crónica  – aliás não tenho qualquer dúvida que este italiano, pelos recordes do Guinness que tem amealhodo, é seguramente melhor atleta que eu. Adiante…)

Dás contigo na incerteza e à beira de cair em quase desgraça, a fracassar neste desafio e sem recorde. Depois do impacto, levantaste-te e recompões-te. E por obra do acaso sentes-te arrebatado por GRATIDÃO… pelo estímulo milagroso que estavas mesmo a precisar!

Aí ficou claro, clarinho como a água... A nossa vinda a Sevilha tinha uma missão: recuperar o nosso Recorde (da treta)!

Bom, na realidade, isto foi tudo muito fácil! O Vasco Duarte e o António Vilhena, esses grandes guerreiros é que fizeram tudo... Grande espírito, sempre a imprimir o ritmo necessário e a limpar caminho e abrir corredores. Que grandes! Eu só tive de me arrastar atrás deles que nem um cão, km atrás de km, a alternar entre diversão, sofrimento, motivação aos “terroristas” e sempre com o objetivo na cabeça… dar conta do pizzeiro ! Tirámos 15 minutos ao anterior recorde, fizemos 3:05:25! Foi simplesmente brutal!

Na meta, um enorme sentimento de satisfação pela superação e gratidão, uma gigante gratidão a todos os que te ajudaram. Yes we can!

Autores
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Paulo Franco