Neste dia dos namorados, recuperamos a história de um casal que o desporto uniu: os triatletas Vanessa Pereira e Sérgio Marques.

A PRO RUNNERS esteve à conversa com Vanessa Pereira e Sérgio Marques, um casal de triatletas de longa distância, que se conheceu precisamente devido ao sonho de fazer um Ironman [3,8 km de natação, 180 km  de ciclismo e 42,2 km de corrida].

Embora não tenha tido uma infância propriamente ligada ao desporto, aos 16 anos Sérgio Marques começou a praticar remo, mas sempre com o intuito de perder peso e estar em melhor forma física. Chegou a fazer competição, mas as condições do clube para esse nível não eram as melhores, então decidiu desistir do remo e procurar outra atividade que o «preenchesse». Já habituado a ver o Campeonato do Mundo de Ironman no Havai na televisão, começou a “achar graça ao triatlo de longa distância” e pensou que “seria um desafio fantástico”. Esteve dois anos em preparação, aprendeu a nadar, treinou corrida, ciclismo e em 2003 fez o seu primeiro Ironman, nos EUA, onde foi 7.º da geral.
Competiu mais de dez anos como elite/profissional, mas em 2017, quando já trabalhava como Engenheiro Civil a tempo inteiro (e que ainda exerce até hoje) passou a fazer competições enquanto amador, devido à exigência de tempo da profissão.
O atleta lisboeta de 42 anos já completou 54 ironmans, é o detentor do recorde nacional da distância (7h57) e foi o primeiro amador a cruzar a linha de chegada no Ironman Havai 2019, vencendo a categoria 35-39 anos em 8h35min12s e ficando em 30.º lugar geral.

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Ao contrário do companheiro, Vanessa Pereira sempre foi uma adolescente “muito virada para o desporto”. Na escola secundária, o professor de Educação Física, que estava a treinar para o seu primeiro Ironman, deu-lhe a conhecer o triatlo quando decorria o Mundial do Havai, prova onde, curiosamente, estava a participar Sérgio Marques, que já era uma grande referência para Vanessa na longa distância muito antes de o conhecer pessoalmente e de este ter sido seu treinador.

“Lembro-me de estar a seguir a prova e de facto aquilo ficou marcado em mim. Desde aí sempre tive o desejo de completar uma prova daquelas, então fui fazendo o percurso passo a passo, com a ajuda do Sérgio, que passou a treinar-me. Primeiro fiz uma estafeta, depois uma prova curta completa, um Olímpico, um Half Ironman, até que no último ano da faculdade senti que, como prenda para mim, aquela seria a oportunidade ideal para realizar o meu sonho”, contou Vanessa.

E assim aconteceu... Em 2011 a atleta, também licenciada em Farmácia, fez o seu primeiro Ironman na África do Sul, como amadora e, surpreendentemente, bateu o recorde nacional da distância [atualmente fixado pela própria em 9h23m], qualificando-se para a mítica prova no Havai. Um feito que nenhuma mulher portuguesa ainda tinha conseguido. A partir daí, o triatlo ganhou uma enorme importância na sua vida e em 2013 começou a fazê-lo profissionalmente. Até à data, Vanessa Pereira já realizou 28 Ironmans, sendo que duas presenças foram no Mundial do Havai.

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A ROTINA

Em situações diferentes no que toca à vida desportiva, uma vez que Vanessa é atleta a tempo inteiro e Sérgio compete a nível amador, a logística da rotina familiar e profissional nem sempre é fácil. Para além de muita organização, o segredo está na “vontade de querer”.

“Somos de clubes diferentes, temos um filho e dificilmente durante a semana conseguimos treinar os dois juntos.  Ou corremos individualmente, consoante os nossos horários, ou corremos os três, ou seja, um de nós a empurrar o carrinho do Afonso.

Obviamente que falta muitas vezes tempo em família, mas é ter paciência, e acima de tudo muito amor pelo que se faz”, referiu a triatleta do Estoril Praia.

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TREINAR E COMPETIR NA GRAVIDEZ

A desafiar todas as probabilidades, Vanessa Pereira, que foi mãe há dois anos (à data da realização deste artigo), treinou durante toda a sua gravidez, inclusive no dia do parto. Para além de treinar, a atleta de 34 anos, aos seis meses de gestação completou a Meia Maratona de Cascais.

“Treinei durante toda a minha gravidez, mas não foi por iniciativa própria, obviamente. Fui ter com as pessoas certas para me acompanharem e também me informei bastante. Posso dizer que na altura, o primeiro médico com quem falei não me deixava treinar e eu não satisfeita fui procurar outras opiniões. Numa gravidez saudável, a mulher não deve alterar a sua rotina. Isso também facilitou o pós-parto, porque passados 11 dias já estava novamente no ativo”,  comenta.

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Agora com dois anos, o filho do casal triatleta já é espetador assíduo nas competições dos pais, muito graças aos avôs que fazem questão de o levar. Vanessa e Sérgio confessam que é uma alegria quando cruzam a meta e veem Afonso de braços abertos para os receber.

“Fazemos provas muito longas, chegamos a estar 9 horas em competição e o sentimento que temos quando o vemos é de saudade e também de agradecimento porque ele, sem dúvida, passou a ser a nossa maior motivação para competir”, enfatizou o casal.

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OBJETIVOS FUTUROS

O caminho no triatlo está longe de acabar e que o diga Sérgio Marques, que no início de outubro tem em vista o seu maior objetivo desde há dois anos para cá, o seu 9.º Ironman do Havai.  A viagem vai ser feita a três, pois Vanessa e o filho Afonso “vão apoiar o pai e assim conciliar o desporto com o lazer e a família."

A triatleta do Cadaval, que também ainda vai competir este ano no Ironman de Israel, que acontece em novembro, confessa que tem o objetivo de um dia conseguir um pódio neste tipo de provas: “É um objetivo muito ambicioso, mas espero que o meu dia chegue. Com mais ou menos horas de treino ou mais ou menos horas de sono, estou aqui todos os dias  a acreditar nisso.”

Mestre em Treino de Alto Rendimento, Vanessa também é treinadora e criou há cerca de dois anos o projeto XiD Training: “O projeto consiste em treinar atletas amadores na vertente do triatlo e o processo é individual, porque cada atleta tem as suas rotinas e objetivos. Gostava muito que este meu projeto chegasse ao nível de realizar estágios, Training camps e envolver algo internacional ”, frisou Vanessa Pereira.

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PROVAS ESPECIAIS

Competições já participaram em muitas, mas há sempre aquelas que deixam marca e que nunca vão esquecer... No caso de Sérgio, enumera como top três, o primeiro Ironman no Havai (2005), o Ironman de Barcelona (antigo Challenge Barcelona, em 2013), que foi das poucas provas do circuito mundial que ganhou e o Campeonato Nacional em Coimbra, o ano passado (2021), pelo simbolismo de ter sido o primeiro Ironman que fez em Portugal. Vanessa também destaca a primeira vez que competiu no Havai (2011), sonho que achava impossível de concretizar não se esquece quando foi campeã do mundo do escalão 20-24 anos de longa distância e ainda recorda com carinho o primeiro Ironman que fez após ser mãe, onde bateu o seu próprio recorde nacional.

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LESÕES E ALGUNS SUSTOS...

Só acontece a quem não está parado e se é certo que muitas já foram as alegrias no triatlo, nem sempre tudo correu bem. Sérgio e Vanessa recordaram duas graves lesões que os obrigaram a parar durante algum tempo.

“Tive uma torção do intestino grosso. Estava a treinar, terminei de correr e comecei a ter dores de barriga horríveis, fui de urgência para o hospital e só com morfina é que conseguiram acalmar as dores. Basicamente o meu intestino torceu durante a digestão e não voltou à forma normal. Tive de ser operada de urgência, ou seja, cortar um bocado do intestino e foi uma recuperação difícil.”  
Ao Sérgio aconteceu-lhe algo que podia impedi-lo de voltar a fazer desporto... Durante o treino, teve um tromboembolismo pulmonar, formou um coágulo, desmaiou e voltou à vida por milagre sem nenhuma mazela no corpo. Foram alguns meses de recuperação e sem saber se poderia voltar a competir ou não. Foi assustador, o Afonso tinha acabado de nascer, foi uma altura bastante difícil”, recorda Vanessa.

Artigo inserido na Pro Runners #13, de outubro/novembro de 2022.

Autores
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Márcia Dores