Com 71 anos e uma paixão pela bateria desde miúdo, o músico toca para milhares de corredores nas mais diversas provas de norte a sul do país.
Depois de já ter entrevistado muitos corredores, desta vez a PRO RUNNERS decidiu dar a conhecer alguém que não corre, mas que dá alegria a quem o faz... Tem 71 anos, é de Matosinhos e é com a sua bateria, que já o acompanha há muitos anos, que Álvaro Azevedo percorre várias corridas do país com o objetivo de animar e marcar o ritmo de quem passa por ele.
Atualmente faz parte da banda "Trabalhadores do Comércio" [autora da famosa música dos 90 "Chamem a Polícia"], mas a sua ligação com a música começou cedo... Álvaro Azevedo recorda que com cerca de 9 anos já tinha interesse pela bateria e foi sozinho que aprendeu a tocar o instrumento de percussão.
"De certa maneira sou aquilo a que se chama um autodidata. Na minha época havia professores de piano, de guitarra, mas de bateria não havia nada. Os bateristas daquela época, estamos a falar dos anos 60, aprendiam a tocar bateria através de amigos ou então tentavam aprender sozinhos", contou.
"Quando eu tinha 8/9 anos destruía, sem saber, as panelas lá da família (risos). Já gostava de fazer barulho. No fundo essa paixão foi continuando até que aos 17 anos formei um grupo com o Tozé Brito [conhecido cantor e compositor português] e mais outros elementos, chamado de Pop Five Music Incorporated que, na época, deu nas vistas", referiu o músico de 71 anos, relembrando ainda, que na altura, o disco "Page One", vendido em sete países, teve muito sucesso.
Apesar de tocar vários instrumentos como curioso que é e sempre foi, Álvaro Azevedo confessa que a bateria é o seu instrumento favorito e foi com ela que, em 2019, por desafio de um amigo, iniciou este projeto nas provas de corrida, embora tenha ficado reticente ao início.
"Na altura pensei «O que é que vou ali fazer? Tocar sozinho, no meio da rua?» Mas depois pensei cá para os meus botões: vou tocar, vou divertir-me, que é aquilo que gosto de fazer, e ao mesmo tempo quando os corredores começarem ali a passar, faços-lhes uma variações de bateria para lhes dar um bocado de energia para continuarem a corrida", afirmou.
A sua primeira participação foi na Maratona do Porto, mesmo antes da pandemia, onde tocou durante toda a prova (2h15), pois "estava cheio de adrenalina". A partir daí, os convites foram surgindo e até agora já esteve presente em mais de meia-dúzia de provas, dizendo até na brincadeira: "os atletas já não vivem sem mim".
Álvaro Azevedo toca por gosto e com o objetivo de se divertir e divertir os outros, mas admite que não participa em mais, pois as deslocações (que normalmente são feitas na companhia do seu filho) acarretam algumas despesas...
“Não faço mais porque também não posso sair de casa de mãos a abanar, tenho de levar a bateria, que no fundo é um instrumento pesado, ou seja, tenho de arranjar transporte e também tenho as minhas despesas... E quando as corridas são relativamente perto ainda tenho alguns amigos que às vezes me fazem o transporte, mas quando é para fora acaba por sair sempre um pouco mais caro, por isso no fundo também tenho de cobrar alguma coisa às organizações porque se não torna-se insustentável”, apontou.
Admirado com toda a logística que uma competição envolve, agora que vê tudo "mais de perto", o baterista enaltece a coragem e motivação de todos os corredores: "Isto das corridas não se resume apenas a correr. Cheguei à conclusão que as pessoas que fazem maratonas e que gostam de correr não é simplesmente pela competição, é muito mais. Existe um aliviar de stress, de ansiedade... a corrida é um desporto nobre. Aqueles que vão com aquele foco de chegar ao fim, sejam ou não grandes corredores... admiro a sua motivação para cortar a meta".
Álvaro Azevedo ambiciona continuar com este projeto e até já tem novas ideias em mente... "Por acaso estou aqui a preparar umas novidades.. um dia destes acordei e pensei em fazer uma música para as corridas. A ideia ainda não está em andamento, mas está quase."
A par de ter uma banda e de, de vez em quando, dar música aos corredores como hobbie, o músico dá ainda sessões de musicoterapia na Junta de Freguesia de Matosinhos e Leça da Palmeira com o objetivo de facilitar e promover a comunicação, a relação, aprendizagem, mobilização, expressão e organização de várias pessoas, maioritariamente da terceira idade.