A relação entre o risco de infecção e a carga de treino físico é descrita há muito tempo, acreditando-se que elevadas cargas de treino podem aumentar o risco de infecções, particularmente do trato respiratório superior.

Nos atletas, os episódios de sintomas do trato respiratório superior ocorrem, geralmente, em torno de períodos intensos de treino, com um risco maior durante os meses de Inverno. Actualmente, com as medalhas a serem decididas por margens mínimas, até os sintomas menores podem ter um impacto negativo significativo nos resultados da competição. Devido a estas implicações no desempenho atlético, têm-se desenvolvido pesquisas concentradas em estratégias nutricionais para melhorar a função imunitária. 

Proteína

A função imunitária depende da rápida replicação celular e da produção de proteínas, como citocinas e imunoglobulinas. Por isso, uma ingestão inadequada está associada a comprometimento da defesa e, assim a maior susceptibilidade a infecções. Geralmente, a ingestão de proteína supera as necessidades, contudo, alguns atletas, em períodos de treino intenso ou de perda de peso, podem passar por períodos de ingestão sub-óptima. Investigadores verificaram que uma dieta rica em proteína teve resultados significativos, revelando menos sintomas do trato respiratório superior.

Os autores acreditam que ajuda a manter a função imunitária durante períodos de treino de alta intensidade. A quantidade a ingerir deve ser definida de acordo com o peso, composição corporal e tipo de exercício realizado. Também tem havido interesse na suplementação de um único aminoácido para influenciar a competência imunitária nos atletas, nomeadamente a glutamina, por ser um combustível importante para as células do sistema imunitário, em particular linfócitos e macrófagos. Contudo há poucas evidências de que a sua suplementação influencie as respostas imunológicas.

proteina

Vitamina D

Recentemente têm surgido evidências destacando o papel que a vitamina D pode ter na saúde dos atletas, tanto o papel importante na saúde óssea e na função muscular, como na inflamação e na imunidade. Ao contrário das outras vitaminas que têm de ser obtidas através da dieta, a vitamina D pode ser suficientemente alcançada através da síntese endógena. A produção cutânea de vitamina D é muito variável e dependente de factores ambientais e individuais, nomeadamente localização (diminui em latitudes >35-37º, nas quais Portugal se encontra), estação do ano, hora do dia, quantidade de cobertura de nuvens, pigmentação da pele, idade, roupas utilizadas e o uso de protector solar. Estudos com atletas e militares, revelam relação negativa entre a concentração de vitamina D e os sintomas do trato respiratório superior. Neste estudos verificou-se que os grupos com deficiência de vitamina D relataram uma maior gravidade de sintomas e um maior número de dias com os mesmos.

Hidratação

É muito comum, os atletas iniciarem os seus treinos em défice de líquidos. Os potenciais efeitos negativos da hipohidratação durante o exercício estão bem documentados, nomeadamente aumento da tensão cardiovascular, elevação da temperatura corporal e aumento da percepção de esforço. Adicionalmente, o défice de hidratação pode ter implicações na imunidade celular e na imunidade da mucosa salivar. Sendo fundamental, a manutenção de um bom estado de hidratação por parte dos atletas.

hidratacao antioxidantes

Antioxidantes 

O exercício intenso está associado a um aumento agudo na produção de radicais livres. Existe uma rede endógena de antioxidantes para fornecer protecção contra danos oxidativos, mas também os antioxidantes alimentares podem potenciar essa protecção. De todos os suplementos antioxidantes, a vitamina C é o que tem maior evidência no apoio à saúde imunológica nos atletas. A suplementação regular de vitamina C parece não reduzir o risco de desenvolver sintomas do trato respiratório superior, mas sim a duração e a gravidade dos mesmos. Os benefícios observados ocorreram com doses entre 0,25-1g/dia, sendo quantidades facilmente atingidas com a ingestão regular e variada de frutas.

Glícidos 

A sua ingestão é fundamental para a melhoria do desempenho físico assim como para a recuperação. Os atletas que adoptam uma ingestão restrita de glícidos aumentam o risco de comprometimento imunitário. Muitas investigações revelam que há um aumento do nível de hormonas de stress (cortisol e adrenalina) e de citocinas (moléculas mediadoras da resposta inflamatória) em dietas com uma restrição de glícidos comparativamente a dietas com teor normal a elevado. Sugere-se que o aumento da disponibilidade deste nutriente actuará indirectamente na redução da resposta ao stress e, assim, limitar o comprometimento imunitário induzido pelo exercício.

glicidos 2

Resumindo, em atletas o risco de infecções e sintomas do trato respirató-rio superior concentra-se normalmente em períodos de viagem, competição e períodos de treino intensos, em particular nos meses de Inverno. A fim de limitar os efeitos prejudiciais destes sintomas na conclusão dos treinos ou no desempenho competitivo, os atletas devem procurar estratégias para prevenir ou gerir estes eventos. Em suma, essas estratégias incluem:

- variabilidade alimentar;

- ingestão regular e variada de frutas e legumes, evitando défices de micronutrientes;

- ingestão adequada de glícidos, diariamente e entre sessões de treino exigentes;

- aporte adequado de proteína, especificamente quantidade, tipo e momento de ingestão;

- boa hidratação ao longo do dia;

- e ainda, reflexão sobre a necessidade da inclusão de suplementos, tendo em conta a evidência científica e não a assunção de que todos os suplementos são mágicos.

Autores
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Susana Francisco